terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

MINHA SOLITÁRIA VIDA




Por: Nêodo Ambrosio de Castro

Tem sido uma novidade após outra, as minhas experiências com a solidão. Às vezes busco, propositalmente, me isolar. Procuro uma praia deserta sento-me à beira-mar e de olhos fixos no horizonte, observo as nuvens mudando de formato ao sabor do vento, estudo as formas imaginando imagens mais ousadas, assim me distraio por horas.
A brisa que vem do mar me deixa arrepiado, vez ou outra. Nesse outono, as tardes já começam a esfriar, assim que o sol se põe.  Mas é agradável sentir aquele vento gelado, nos braços que mantenho cruzados à frente do corpo para tentar me aquecer.
Às vezes me dá vontade caminhar na areia. Tiro os sapatos e vou acompanhando a margem no limite que as águas das ondas atingem, para não me molhar muito. Caminho o quanto consigo e minhas pernas aguentam. Mas não posso ir muito longe. Já sinto o peso da idade incomodar meus joelhos que chegam ao ponto de quase não agüentar mais o peso do corpo. Mesmo nos meus passeios pelas montanhas, quando me sinto em contato com a natureza, me sinto feliz e tranqüilo. Faz-me bem esse contato com as plantas os pássaros que procuro admirar. Mas sempre estou a contemplar o horizonte e parece que lá estão meus segredos e as respostas que ainda busco.
Mas preciso caminhar mais, muito mais. Essas caminhadas a beira-mar ou pelas pequenas e estreitas estradinhas das montanhas, me fazem muito bem. Enquanto caminho, é como se visse a minha vida passando diante de mim, a uma velocidade acelerada, mostrando-me os momentos que mais me agradam recordar. Lembranças da juventude, quando tudo podia, quando não me importava com recomendações dos médicos. Quando essa jovialidade me dava forças para enfrentar tudo.
Imagino loucuras, nesses momentos já não nos importamos em manter limites. A imaginação toma conta e nos leva onde quer, sem que sequer tentemos controlá-la.
Lembro dos amores, das desilusões, recordo as mágoas que permanecem incrustadas em minha alma. Por mais que evite lembrar-me desses desencantos, não consigo evitar, eles teimam em permanecer vivos me corroendo as entranhas. Essas mágoas me fazem o coração doer e provocam lágrimas as quais se manifestam na tentativa de aliviar aquela pressão forte no peito.
Assim continuo caminhando sem vontade parar, mas em um dado momento me sinto exausto e obrigado a sentar-me de novo na areia, ou na beira da estrada e volto a observar o horizonte. Desta vez meu coração já entristecido pelas lembranças e as lágrimas persistentes me turvam a visão e as imagens, antes tão nítidas, se misturam numa espécie de borrão incompreensível. Neste momento é que me ponho a perguntar o porquê de tanta mágoa e porque elas me afetam tanto. Não consigo responder, mas meu peito apertado me avisa que elas jamais me deixarão e um dia me farão despedir-me dessa vida, pois meu coração já um bastante cansado de tantos anos de trabalho incessante e com tantos remendos já não aguenta mais tantas emoções.
Brota em mim uma espécie de raiva de tudo. De mim, principalmente, pela imaturidade com a qual encarei algumas situações. Acabo não me perdoando e assim me refaço aos poucos vou caminhando de volta, desta vez, cabisbaixo, em ritmo lento e já sem aquela alegria de admiração pelas formas das nuvens no horizonte.
Algumas vezes procuro um livro e começo uma leitura que sei que não vou terminar, nas primeiras páginas vou julgá-lo chato e sem sentido, pego um outro e o mesmo acontece. Vou desistindo das minhas leituras já não tenho mais a paciência para ler e avaliar cada detalhe do livro ou mesmo viajar através das entrelinhas, como fazia antes.
Assim vou me isolando cada vez mais, já não tolero televisão, não consigo ouvir uma música em um tom mais alto. O barulho da rua me incomoda e qualquer ruído, por menor que seja, durante a noite, é o bastante para me tirar o sono.
Sinto-me triste, muito triste, já não tenho mais aquela vontade viver. A alegria de estar conversando com alguém por alguns instantes, estou sempre com pressa e impaciente. Só o isolamento e as minhas lembranças consigo tolerar. Assim mesmo porque elas me trazem, às vezes, recordações de bons tempos com a família. Mas isso já aconteceu há tanto tempo que até as lembranças já vêm com falta de detalhes que as tornam sem graça.
Procuro ver as fotografias de anos passados. Fotos de meus filhos e de lugares que visitei, quase sempre me detênho diante de uma ou outra um tempo maior, tentando lembrar como estava naquele momento o que sentia e o que me lembra aquela fotografia.
Nos meus momentos de reflexão lembro das maldades que já fiz. Lembro das que sofri. Das ingratidões e das incompreensões das pessoas que comigo se relacionaram. Lembro daquelas que algum carinho me deu sem nada querer em troca. Lembro, também das outras que nada me deram só me levaram tudo que podiam, minha juventude, meu tempo e até a minha própria vida.
Muitas me sugaram até a última gota de sangue. Tiraram todo proveito que puderam até não mais precisarem e me descartar como uma embalagem de onde se esgota o conteúdo.
Mas não culpo ninguém, além da minha ignorância, da minha falta de discernimento, minha incapacidade de julgar e descobrir a verdadeira intenção das pessoas que me cercavam.
Não sei até que ponto fui, feliz ou infeliz. Não consigo imaginar como estaria me sentindo neste momento se tudo tivesse sido diferente. Minha imaginação não consegue alcançar e determinar o desfecho de tudo. Mas ainda estou respirando, estou vivo e caminho com minhas próprias pernas, embora um pouco trôpego, vou até à praça onde descanso em um banco observando os pássaros, as flores, a grama orvalhada e as pessoas que passam com seus cães fazendo o passeio matinal.
Acho, às vezes que não devia, mas ainda sinto vontade de amar. Amar alguém que me fosse fiel e carinhosa, alguém em quem pudesse confiar meus segredos e falar de meu passado, sem que se entediasse. Mas depois de tanto tentar, acho que estou desejando coisas impossíveis. Se tive a vida toda para fazer isso e não fiz, ou melhor, não consegui, embora vontade tivesse, como posso neste momento, quando o fim está tão próximo querer uma coisa dessas?
Na verdade é tudo bastante confuso para mim. Se é para mim, imagine para qualquer outra pessoa entender os meus pensamentos.
Mas esses pensamentos fazem-me sentir a vida em meu corpo, o sangue correndo nas veias, o coração batendo, incansavelmente, e vez ou outra repicando mais forte por uma emoçãozinha a toa.
A vida é tão misteriosa e nos reserva tantas surpresas que não é difícil imaginar que de um segundo para outro poderei cair, em um lugar qualquer e deixar essa vida, mais rapidamente do entrei nela.
Mas foi, no mínimo, interessante minha passagem por essa vida. Assim deve ser para cada ser humano, diferente, sem dúvida, mas no final todas as coisas ficam parecidas e acabam da mesma forma. Depois que o velho coração para de bater, tudo termina de forma igual para todos os seres. Desconhecemos, no entanto, o que poderá nos esperar após isso.

DESISTIR E MORRER



Por Nêodo Ambrosio de Castro  

Numa passagem da Bíblia (Reis), conta-se que o Profeta Elias ameaçado de morte e perseguido, na ânsia de se salvar, embrenha-se pelas florestas em direção ao monte Horeb, em busca de segurança. Esgotado e com fome, senta-se à sombra de uma árvore e diz: “Senhor , basta de sofrimento, toma a minha alma,  pois não sou melhor do que meus pais”. Conta-se ainda que após acordar, já descansado, vê que um Anjo lhe traz pão e água fresca. Então, refeito retorna o seu caminho ao topo da montanha, onde Deus lhe dá nova direção para a sua vida.

Esta história é vivida, no dia a dia, pela maioria de nós. Quantas vezes, já esgotados e desanimados, passando por situações aflitivas, não pedimos a Deus que nos tire a vida e nos deixe ir pois não agüentamos mais.  Esses constrangimentos, pelos quais passamos, poderiam não ser tão difíceis se tivéssemos a quem recorrer, alguém para nos ouvir, alguém em quem  buscar o conforto que precisamos, para superar os obstáculos que se interpõem em nossas vidas.

Quando nos damos conta de que precisamos de alguém com quem dividir nossos momentos, nossos fracassos, nossas ansiedades, alguém onde buscar a força e o apoio para continuar. Aquela fonte inesgotável de energias que está sempre a nos impulsionar para a nossa meta. Quando chegamos à conclusão de que sozinhos não somos ninguém é que começamos a valorizar a amizade sincera. No entanto, devemos entender que aqueles que estão sempre nos apoiando podem também precisar do nosso apoio, por isso é importante não ver nesse amigo o que ele não pode ser.

Nem mesmo os mais fiéis e desinteressados dos amigos são infalíveis. Todos nós temos os nossos momentos de fraquezas. Aquele nosso fiel amigo, o que ali está, ao nosso lado, sempre pronto a nos ajudar, também é como nós, pode precisar da nossa ajuda, do nosso incentivo. Ser amigo não significa, necessariamente, ser infalível ou sobre-humano. Ser amigo é estar sempre à disposição, sempre pronto a escutar, compreender e ajudar. Um amigo pode precisar da mesma ajuda, do mesmo apoio e da mesma compreensão que nos dedica.

TEMPO PASSADO - SONETO


O tempo não deu tempo de tudo arrumar. O tempo passou e nosso amor ficou nesse passado, mortal que acabou, morreu.
Não cuidamos, nosso amor não floresceu. Semi morto está!